Discurso do Presidente

DISCURSO SESSÃO SOLENE – HOMENAGEM À COLÔNIA SÍRIO-LIBANESA

SENHORAS E SENHORES,

BOA NOITE ...

A CÂMARA MUNICIPAL DE SANTOS DUMONT sente-se honrada em prestar nesta sessão solene, uma homenagem à Colônia Sírio-Libanesa e a importante contribuição no desenvolvimento sócio-econômico e cultural do município e de toda a região.

O tempo aqui seria pequeno para relembrar a milenar história de sírios e libaneses, bem assim remontar os motivos que os levaram a migrar para um país: como o Brasil.

Contudo, nestes movimentos migratórios, do qual o Brasil foi um dos destinos, chamamo-nos a atenção à força demonstrada por sírios e libaneses diante de situações adversas em seus países de origem, que por certo ajudaram em muito a adaptação no Brasil. Síria e Líbano desde ao muito sofreram invasões de povos estrangeiros, por certo provocadas pela privilegiada posição geográfica – banhados que são pelo Mar Mediterrâneo (importante rota comercial entre o Ocidente e o Oriente).

Seria, pretensioso falar em breves palavras a trajetória de sírios e libaneses, especialmente quando analisamos uma característica comum a todos: a posição firme diante de situações extremas. Se nos é difícil narrar em breves palavras, pedimos licença, para transcrever parte do depoimento da Senhora Mounira Haddad Rahme, Presidente do Clube Sírio Libanês de Juiz de Fora, Clube este que desde 1954 congrega sírios e libaneses. Senhora Mounira, nós nos sentimos honrados com a vossa presença, representando a colônia sírio-libanesa da irmã cidade de Juiz de Fora. Na vossa pessoa cumprimentamos a toda colônia sírio-libanesa da vizinha e irmã cidade de Juiz de Fora. Disse-nos a Senhora Mourina: “Tenho uma recordação minha na Síria de quando era uma garotinha, teve uma guerra lá no ano de 1946 e com a guerra veio à fome e as necessidades, em que os não possuidores de terra morriam de forme e eu me recordo que na época tinha a colheita do trigo, à noite quando o bombardeio interrompia seu impiedoso castigo aos inocentes, saíamos: minha mãe, eu e meu avô; que estava muito idoso e debilitado; corríamos para os campos da plantação de trigo e trazíamos o trigo para dentro de casa para não morremos de fome; isto marcou minha vida para sempre”.

Podemos dizer que a Região da Mata Mineira, onde se localiza a terra Palmirense, hoje Santos Dumont, recebeu o segundo fluxo de imigrantes sírios e libaneses. No primeiro fluxo migratório, foram os sírios e libaneses para o Amazonas, instalaram-se no Rio de Janeiro e em São Paulo, daí espalhando-se por todo o interior fluminense e paulista.

Incentivados por parentes que já estavam no Brasil ou por relatos de conhecidos - ... o segundo fluxo migratório de sírios e libaneses incluiu o Estado de Minas Gerais, visto que aqui havia uma industrialização crescente e uma extensa zona rural, formada em sua grande maioria por prósperos fazendeiros. Em Juiz de Fora foi marcante a contribuição dos libaneses e dos sírios, tendo sido eles fundamentais para o crescimento da cidade. Enquanto os sírios se dedicaram na sua maioria ao comércio, os libaneses foram atuar na indústria têxtil.

Mas, como os sírios e libaneses chegavam ao Brasil? Chegaram sem o auxílio governamental, com suas economias, muitas vezes com pouquíssimo dinheiro. À bordo de navios, viajavam o mundo para chegar à uma nova terra, havida, como próspera. Aliás, esse é o relato dos filhos dos imigrantes sírios e libaneses que se instalaram por estes plagas, senão vejamos:

Contou-nos o Senhor Isse Mansur: “Meu pai quando veio para o Brasil veio com diversas companhias, inclusive quando ele pegou o navio para vir, ele pegou um navio que se chamava América achando que estava indo para a América e quando o navio desembarcou no Brasil ele ficou aqui mesmo no Brasil, que na época era considerado, uma terra de oportunidades”.

E, ainda, o Senhor Antônio Jorge Nassaralla: “... tanto mamãe e papai vieram para o Brasil de navio e segundo alguns relatos da mamãe o navio não era muito bom, muito úmido e sujo, as instalações não era das melhores...”

Nesta ambiência de motivação e realidade, acreditamos que o primeiro sírio a aportar em terras Palmirense foi o Senhor Abdo Deud Hallack. O já falecido articulista José Raimundo Bandeira escreveu:

“Eu o conheci como uma figura muito simpática, fumando a sua “arguille” para espanto dos meninos e adultos que não entendiam “porque aquele senhor ficava soprando aquela água ...” Nascido em 18 de junho de 1890, em Yabroud, na Síria, foi o primeiro imigrante a chegar em Juiz de Fora em 1913, vindo em seguida para Palmyra, onde mascateou em companhia de seu primo Wady Hallack, também chegado de Yabroud. Em Palmyra ele abriu uma loja de varejo com o nome CASA BRANCA...Em 1923 voltou a Yabroud ... e em 1925, volta ao Brasil, então acompanhado de sua mulher Olga Hessuany, libanesa de Beirute, reinstalando-se em Palmyra, cidade natal dos seus cinco filhos: José, Maria, Miguel, Josefina e João.”

Queremos aqui registrar e agradecer a presença da família Hessuany Hallack hoje residentes em Juiz de Fora; consignando que a terra palmirense será sempre vossa, posto que ABDO e OLGA a adotaram como sua e, nós sandumoneses, eternos palmirenses os adotamos como exemplos.

Neste ponto, permita-nos um registro. Se ABDO HALLACK foi o primeiro imigrante sírio, temos que o primeiro libanês foi um homem de patronímico JORGE. Da pesquisa realizada por esta Casa, localizamos na Fazenda da Barra de propriedade do Senhor Vicente Fernando Ferreira uma nota fiscal datada de 1913, onde há referência a este imigrante libanês; proprietário da Casa Jorge no Distrito de Dores do Paraibuna, fato este confirmado pela Senhora Maria José da Costa.
Acreditamos ser o Senhor JORGE ao lado do Senhor ABDO HALLACK um dos pioneiros da fixação migratória nas terras dos palmirenses.

Releva dizer que a maior concentração inicial dos imigrantes Sírios e libaneses se deu no Distrito de Dores do Paraibuna, distrito onde havia a maior concentração de fazendas com produção leiteira e, por conseguinte: próspera.

A Senhora Maria José da Costa, nascida em Dores do Paraibuna, contando hoje 93 anos, foi moradora daquele Distrito e conviveu com a colônia sírio-libanesa, tendo-nos dito: “... meu pai era fazendeiro que trabalhava no ramo de gado leiteiro. Me recordo de vários sírios e libaneses e descendentes que moravam na época em Dores do Paraibuna, como o Senhor Nagib, o Senhor Jorge, a Dona Maria, o Senhor Abílio, a Dona Chafia”.

“...haviam muitas casas comerciais que eram administradas pelos sírios e libaneses, ... atuavam no ramo de secos e molhados e produtos de fazenda; era um comércio muito variado, tinha de tudo; me recordo que eles não falavam muito bem o português; ... eles falavam em árabe e eu achava muito bonito, gostava de vê-los falando, mas eu não entendia nada...”

“outra coisa que me recordo é que os mascates eram vendedores que vinham vendendo de porta em porta, eles andavam com umas caixas nas costas e outras traziam as caixas em cima de cavalos. Vários passavam na fazenda do papai, vendendo de tudo um pouco.”

Sem dúvidas, sírios e libaneses mostraram aqui, por ações serem homens e mulheres de fibra e, sobretudo, trabalhadores. Conta-nos, ainda, Dona Maria José da Costa: “eles eram muito trabalhadores e o comércio de Dores era administrado pelos sírios e libaneses que nunca deixavam faltar nada em suas casas comerciais; eles faziam de tudo para atender bem o povo de Dores.”

No mesmo sentido, conta-nos o Senhor Isse Mansur, filho de libaneses, que nos honra esta noite com a sua presença, a quem aproveitamos para cumprimentar a toda família Mansur. Faland-nos de seu pai Habib asseverou: “Meu pai veio para Dores do Paraibuna para mascatiar, pois na época Dores do Paraibuna era muito movimentada e corria muito dinheiro devido ao grande número de fazendeiros na região e meu pai deve ter passado um trabalho enorme”.

O apego ao trabalho, também é o que registrou o Senhor Edson Camil Iunes à Câmara Municipal: “Meu pai era muito honesto e muito trabalhador; tinha um armazém de secos e molhados na Antônio Ladeira quês e chamava “Camil Iunes. Um homem que chegava a trabalhar até 20 horas para dar estudo aos filhos”, registrou Edson Camil Iunes, irmão da nossa querida amiga Emira. Na pessoa de ambos cumprimentamos a todos os descentedentes de Camil Iunes.

Também o Senhor Abdo Salomão ressalta a característica, comum aos membros da colônia sírio-libanesa de Santos Dumont. Disse-nos o Senhor Abdo Salomão: “O trabalho é tudo na minha vida, é uma das coisas mais importantes na vida de uma pessoa junto com a saúde”. Aproveitamos para cumprimentar ao Senhor Abdo Salomão e cumprimentar a todos os familiares da família Salomão.

O trabalho começava muito cedo para os filhos dos sírios e libaneses. Eis o que nos foi contado pelos Senhores Carmem Mansur e Antônio Jorge Nassaralla:

Disse-nos o Senhor Carmem Mansur: “... meu pai montou o armazém Brasil uma das primeiras casas de secos e molhados da cidade que funciona na mesma atividade comercial há 70 anos, na época trabalhava correndo a freguesia, ía de porta em porta para saber o que os clientes estavam precisando e voltava para a Loja e pesava a mercadoria, depois eu voltava fazendo a entrega aos clientes.”

O Doutor Antônio Jorge Nassaralla, aqui representado pela sua irmã, Senhora Hely Nassarralla a quem cumprimentamos a laboriosa família Nassaralla, disse-nos: “Meu pai tinha um armazém de secos e molhados que se chamava CASA CENTENÁRIO ... na época eu trabalhava com o papai no armazém e tinha a função de correr a freguesia...”

Prosperar, esse foi um verbo que a colônia sírio-libanese soube conjugar, através do trabalho. A conjugação destes dois verbos ... trabalhar e prosperar ... fica claro nas palavras da Senhora Ancina Couri, filha do Senhor José Couri, que disse-nos: “antes de vir para Palmyra ele foi mascatear nas cidades de Mercês, Paiva, Oliveira Fortes e outras cidades. Com o tempo ele juntou um dinheiro e comprou uma casa na Rua Antônio Ladeira, e juntamente com o seu irmão Jorge Couri montou uma loja: Couri e Irmão. Papai lutou muito para melhorar a cidade de Santos Dumont...” É verdade, só como exemplo podemos citar a construção e doação do prédio conhecido como Padaria Primor ao Hospital de Misericórdia de Santos Dumont. A todos da família Couri o agradecimento do povo de Santos Dumont. José Couri por vários anos foi o papai Noel de centenas de famílias carentes. Aos seus filhos: Dulce, Clarice, Ancina, Mário (em memória) e Maurício. Aos seus netos e netas, nossa saudação e agradecimento.

Pode-se, somar, aí o esforço de outras laboriosas e respeitadas famílias: SAD, IBRAHIN, ALVERNAZ, ABUD, TANNUS, PEDRO, IGNATO ... que reconhecidamente marcaram e continuam a marcar a história de Santos Dumont.

O que seria do Comércio de Santos Dumont se não fosse a dedicação e a vocação dos imigrantes sírios e libaneses? Por certo, não seria o que é hoje. Sírios e libaneses lançaram à base do desenvolvimento do comércio local que repercute até os dias atuais, não sendo pouco lembrar que é o comércio o principal empregador e onde efetivamente circula as riquezas do município.

Outra característica que merece registro é o permanente sonho de superação que os sírios e libaneses e seus descendentes trazem consigo. Enquanto mascates, eles tinha um sonho:

“O mascate não andava pelo interior sem ideal. Em suas andanças sonhava com um grande armazém, com prateleiras sortidas e balcões com vários empregados atarefados em atender aos clientes, e até quem sabe com um escritório bem montando onde poderia gerir seus negócios. Muitos destes mascates tiveram seus sonhos realizados à custa de muito sacrifício e obstinação...”

Aqui não foi diferente!

Por fim, mas não por último, temos que aqui registrar outra característica marcante da colônia sírio libanesa - o amor pela família; em todos os depoimentos colhidos fica claro um forte laço familiar, respeito e reverência aos pais, que podemos traduzir em uma passagens: Disse-nos o Senhor Abdo Salomão “... quando meu pai morreu ela ia para o fundo da minha casa onde passava um rio e pegava uma pedra e ficava batendo no peito com a pedra, chamando o nome de meu pai em árabe; eu ia para perto dela, tomava-lhe a pedra das mãos, e acalentava-a- para distraí-la e esquecer a morte de papai.”

Poderíamos aqui nos estender, ainda, tanto mais. Dizer da influência cultural da colônia sírio-libanesa em nossa cidade, com um marco todo especial na culinária. Mas, penso que muito do que se falou, é uma passagem da vida dos mais experientes e, do relato vivo aos mais jovens da colônia. Mas, a Câmara Municipal de Santos Dumont entendeu de prestar uma homenagem à colônia sírio-libanesa, cabendo-me a honra de havê-la proposta, deixando consignado às gerações futuras de que muito do que somos deve-se aos laboriosos imigrantes sírios e libaneses. Faz parte de nossa história e há que ser contada, hoje e sempre.

Finalizando, quero registrar mensagem que recebemos do amigo Luiz André Barra Couri, que mais que tantas palavras, por nós aqui ditas, retrata em síntese o sentimento dos descendentes aqui hoje presentes e, ainda, daqueles que não houveram de estar:

“Ao contrário de outros grandes grupos, a imigracão sírio-libanesa foi espontânea e individual. A maioria estabeleceu-se na cidade e preferindo ganhar a vida como comerciante autônomo a ir para as lavouras do interior. O objetivo era "fazer a América": ganhar dinheiro e voltar. Acabavam ficando e trazendo o resto da família.

O patrício chegava, pegava umas mercadorias em consignação, colocava na maleta e saía vendendo de porta em porta ou sobre a lona estendida na praça. Aos poucos, abria uma lojinha, um atacado, com sorte uma indústria. O comércio permitiu juntar dinheiro mais rápido e deu liberdade para depois aplicar parte dele em boas escolas para os filhos.

Ao colocarem suas quinquilharias na maleta e sair de bicicleta, no lombo do burro ou de barco pelos grotões do Brasil, os imigrantes ajudaram a povoar o país e fincaram raízes nos cantos mais remotos.

O presidente americano Theodore Roosevelt conta, em suas memórias da viagem que fez pelo interior do Brasil em 1914, em companhia do marechal Rondon, que encontrou um jornal da colônia, escrito em árabe, num lugar onde não se avistava ninguém a dias de caminhada.

Com o "comércio no sangue" desde gerações imemoriais, os imigrantes iam atrás de fregueses, de oportunidades. Ou mercado, como se diria hoje. Operaram uma revolução no comércio popular, com novidades como vendas a crédito, redução da margem de lucro compensada pela quantidade, alta rotatividade de estoque e promoção de liquidações.

E nessas idas e vindas, muitos chegaram à Palmyra!

E ajudaram muitíssimo na transformação da economia local. Criaram um dos comércios mais prósperos das Minas de então.

A antiga rua 15 de fevereiro, hoje Antônio Ladeira, vivia abarrotada de gente pelas lojas. O trem da antiga Central do Brasil parava e habitantes das cidades circunvizinhas aqui vinham para realizar suas compras.

Decerto, teríamos uma outra Santos Dumont não fosse a presença tão marcante da colônia sírio-libanesa! Por uma razão muito simples: o comércio é o maior gerador de riqueza que conhecemos. É também o maior estímulo que podemos dar às nossas economias.

E isso os imigrantes fizeram, e muito bem.

A Família Couri agradece em nome de seus ascendentes - José, Jamile e Mário.”

Nós, não descendentes de sírios e libaneses é que agradecemos, pela grandeza da contribuição de valorosos homens e mulheres que corajosamente – vindos do oriente - atravessaram o mundo para criar aqui não apenas negócios, mas Famílias!

Assim, também já o éramos e, permaneceremos.

Às famílias sírio-libanesas, os agradecimentos da Câmara Municipal de Santos Dumont em nome de todo o sandumonenses, de hoje e, dos sempre eternos sírios-libaneses palmirenses.

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