Os meus balões



Raciocínios infantis

Dois meninos brasileiros, dois ingênuos meninos do interior, que nada mais conheciam a não ser o movimento das lavouras primitivas, desprovidas de qualquer dessas invenções feitas para aliviar o esforço do trabalho humano, passeavam pelo campo, conversando.

Tal era a sua ignorancia a respeito de máquinas, que jamais siquer haviam visto uma carroça ou um carrinho de mão. Cavalos e bois é que carregavam as cousas necessarias á vida da propriedade, que os tardos lavradores indígenas valorisavam com a enxadae a pá.

Eram garotos refletidos, mas os assuntos que discutiam no momento excediam, em muito, tudo quanto êles haviam visto ou ouvido.

— Por que não se arranja um meio de transporte melhor que o lombo dos animais? dizia Luís. No
verão passado atrelei uns cavalos a uma velha porta e sôbre esta carreguei sacos de milho; assim transportei de uma só vez, mais do que dez cavalos. E' verdade que foram precisos sete cavalos para arrastar a carga, além de dois homens ao lado para impedi-la de escorregar.

— Que quer você? ponderou Pedro. Tudo se compensa na Natureza. Não se pode tirar alguma cousa do nada, nem muito do pouco.

— Coloque rôlos debaixo desse trenó e uma pequena fôrça de tração chegará.

— O r a l . . . Os rôlos se deslocarão; será indispensável pô-los sempre nos lugares, e perderemos, neste trabalho, o que houvermos ganho em fôrça.

— Mas, observou Luís, fazendo um furo no cento dos rôlos, você poderá fixá-los ao trenó. Ou então, por que não adaptar peças circulares de madeira aos quatro cantos do trenó? Olhe, Pedro, o que vem lá em baixo, na estrada. Exatamente o que eu imaginava, de maneira ainda mais perfeita. Basta um cavalo para puxá-lo folgadamente!


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