O Construtor de Balões e Aviões

Santos Dumont foi à Europa, pela primeira vez, com sua família com 17 para 18 anos. Voltou em 1891 e em 1892, e sentia que, até aquela época, estava indeciso entre residir e estudar na França, ou em sua Pátria. Seu pai chegara mesmo, a matriculá-lo (entre 1886 e 1888) na Escola de Minas de Ouro Preto, estabelecimento fundado pelo francês Dr. Henri Gorceix, em 1876. Não consta, porém, que Alberto tenha chegado a freqüentar a famosa Escola.

Em 1893, muda-se definitivamente para a França, indo residir, conforme conselho do pai, em casa de primos, iniciando seus estudos com professores particulares das matérias de seu maior interesse: matemática, física e mecânica. Em 1897, trava em Paris contacto com fabricantes de balões e com balonistas, influenciado, naturalmente, por tudo aquilo que leu e aprendeu nos livros de Júlio Verne, em seu tempo de criança, em Arindeúva.

Consegue finalmente, seu intento de fazer sua primeira ascensão em balão. Naquela época eram ou “cativos” (seguros à terra por uma longa corda), esféricos, e cheios de gás hidrogênio, e então “livres”.

Em 1897 e no ano seguinte, fez, pelo menos, cinco ascensões em balão, como passageiro e curioso, que se transformava, porém, em aprendiz, e pouco mais tarde, ele próprio, pilotando seu próprio balão.

À firma especializada em fabricação de balões, do Sr. Lachambre, de sociedade com seu sobrinho Marchuron, Santos Dumont fez, finalmente, em maio de 1898, a encomenda de seu primeiro balão. D apenas 113 metros cúbicos, não pesaria mais do que 60 quilos, inclusive a barquinha de vime, tamanho diminuto para balão livre, de hidrogênio, considerado pelos próprios fabricantes como perigoso. Mas o jovem argonauta brasileiro pesava apenas 51 quilos, tinha coragem e muita vontade de desvendar os mistérios da aerostação ou balonismo. Passaria mesmo, de passageiro em balões a balonista, fabricante se tornaria.

Aos 4 de julho de 1898, fez a sua primeira ascensão em seu 1º balão livre, ao qual deu o nome de “Brasil”. Este __ escreveu ele em seu livro “Dans l’air” __ foi meu primeiro balão, o menor, o mais lindo, o único que teve um nome: “Brasil”.

Mas o espírito inventivo de Santos Dumont iria se concretizar a partir deste ano, 1898, quando resolveu “adaptar” um pequeno motor à explosão e uma hélice, em um balão de forma diferente, (fusiforme, ou forma de charuto), de que fez encomenda ao Sr. Lachambre, e ao qual designou SD- Nº 1. Iniciara o jovem Santos Dumont, na trepidante Paris, as suas construções de balões dirigíveis. Adaptava, pouco a pouco, novas modificações a seus balões, e acrescentava “plano” e “derivas”, cabos e barquinhas de diversos formatos, que davam à aeronave mais estabilidade, uma certa direção, e maior capacidade de obedecer aos comandos. Era, em suma o Dirigível que surgia, das mãos do inventor, a partir de seu SD Nº 1 e do Nº 2, ambos ainda em 1898. Em 1899 fabrica mais 2 balões, os de números 3 e 4. E, em 1900, o de número 5, já bem mais aperfeiçoado. O ano de 1901 iria marcar, na vida do construtor de aeróstatos, balões e dirigíveis Santos Dumont, a sua primeira grande vitória, conseguida com seu dirigível SD Nº 6, com o qual conseguiu, aos 19 de outubro daquele ano de 1901, ganhar o prêmio “Deustech”, patrocinado pelo magnata do petróleo, Henri Deustech, de 1000.000 francos, instituido para o argonauta que conseguisse, partindo com seu balão-dirgível de St. Cloud, contornar a Torre Eiffel e voltar ao ponto de partida, em apenas 30 minutos. E Santos Dumont o conseguiu, naquele memorável dia, perante fiscais do Aeroclube da França e verdadeira multidão, que o aclamou em delírio, após sua retumbante vitória. Além do prêmio de 100.000 francos, ele ganhou mais 25.000, que distribuiu entre seus mecânicos auxiliares diretos, e aos pobres de Paris. Parte de sua doação foi porém, taxativa: ao Chefe de Polícia de Paris, Monsieur Lepine, entregou certa importância para que tirasse do “penhor” , instrumentos de trabalho (ferramentas) de operários e artífices. Este era o inventor, balonista e argonauta Santos Dumont, possuidor de um grande coração. O brasileiro Alberto Santos Dumont se tornou o “ídolo de Paris”.

O período que vai de 1903 a 1906 muitas vezes é tido erroneamente como um período de férias. Nesse período Santos Dumont não se entregou a nenhuma aventura, que saísse de sua norma habitual, nem anunciou nenhuma grande invenção, que, como a do dirigível, despertasse a atenção mundial. Não quer isso dizer, porém, que não trabalhasse. Trabalhava intensamente até; mas trabalhava em silêncio.

Quem, entretanto, durante esse período, familiarmente entrasse em seu apartamento, transformado por Santos= Dumont em “atelier”, veria sobre a mesa de trabalho uma profusão de desenhos e esboços, a par de modelos, peças mecânicas, aparelhos diversos...O inventor não descansava.

Foi nessa época que introduziu vários aperfeiçoamentos no carburador e sistema de ignição dos motores de explosão; que imaginou uma catapulta para lançar cabos de socorro a navios em perigo; que construiu o primeiro deslizador aquático, acionado por hélices aéreas: passo inicial para o hidroavião! Antes de dotar esse aparelho de motor e hélices, para estudar o comportamento do deslizador a grande velocidade, fez numerosas experiências sobre o Sena, com a máquina rebocada por longo cabo de aço, preso a uma lancha ultraveloz, a “Rapier”.

Havia, pois, outros setores da ciência a que Santos=Dumont se entregava silenciosamente, sem que mesmo aos mais íntimos revelasse seu objetivo. Amigos e parentes, entrando inesperadamente no seu “atelier” , surpreendiam-no, às vezes, atirando flechas de uma a outra extremidade da sala, ora lançando-as com sua própria mão, ora com o auxílio de uma catapulta, que parecia um brinquedo de criança. Eram flechas que, em vez de penas, tinham pequenos planos de sustentação, constantemente modoficados, de acordo com as progressivas observações do inventor. Muitas vezes realizava experiências com “papagaios”, como se houvesse regressado aos tempos infantis.

Enquanto estudava o planador, intercalava as suas experiências com ensaios sobre o helicóptero. Fazia tentativas com pequenos modelos, cuja força motriz provinha de fortes tiras de elástico. Não lhe foi possível realizar os projetos estudados por falta de um motor que fosse a um tempo leve e possante.

De seus estudos sobre o aeroplano resultou o “XIV BIS” que, bem sucedido, deu glória ao seu inventor.

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